segunda-feira, 25 de maio de 2009

Jovens dependentes do telemóvel e do messenger


O uso do telemóvel e do messenger por 513 alunos do 5.º e 6.º anos de uma escola de Amares e outra de Braga serviu de base à tese de mestrado de uma aluna da Universidade do Minho. Há sinais preocupantes de dependência.

"É um facto consumado que o uso do telemóvel e do messenger se democratizou entre os mais novos, fazendo parte integrante do seu quotidiano. A idade com que os indivíduos adquirem o primeiro telemóvel coincide geralmente com a entrada para a escola, ou seja, quando as crianças iniciam o seu processo de maior emancipação, autonomia e socialização, fugindo ao controlo familiar." Teresa Sofia Castro, aluna de Tecnologias da Informação e Comunicação do Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho, centrou o estudo da sua tese de Mestrado na utilização do telemóvel e do messenger por crianças do 5.° e 6.° ano de duas escolas do distrito de Braga. "Quando as teclas falam, as palavras calam" sublinha os "vestígios de dependência" que, apesar da amostra, é aplicável à generalidade dos jovens deste escalão etário. Mas este é um longo caminho, porque são incipientes os estudos sobre o uso privado da internet, principalmente entre os mais novos. Por isso, a autora revela que mais que conclusões, este estudo "aponta diversos pontos de partida, possíveis de desbravar com grupos multidisciplinares".

Mas, se a dependência pode abrir caminho para aspectos nefastos da utilização dos meios, ressalve-se a qualidade com que utilizam, "mais e melhor que os adultos", o que condiciona, sobremaneira, as empresas produtoras de tecnologia no lançamento de novos produtos, com grande atenção a esse segmento.

Ao longo do estudo, Teresa Sofia Castro registou "os sentimentos negativos" dos alunos quando ficam sem telemóvel. "Um aluno dizia-me que se sentia despido, quando se esquecia do telemóvel em casa", sustenta a investigadora.

Mas, o perigo espreita em cada janela que pisca no MSN. "Muitas crianças afirmaram ter contactos que adicionaram a partir da rede. Houve um aluno que referiu a sua predisposição para entrar em chats, com nome falso, insulta os participantes e desaparece. Antigamente, tocávamos às campainhas das portas e fugíamos", enfatiza a investigadora.

Para duas alunas questionadas no trabalho, tirarem-lhe o telemóvel é tirar uma parte de si próprias. "O telemóvel é o meio que tenho para estar sempre a falar com os meus amigos. O MSN é a minha vida. Não consigo passar um dia sem entrar", diziam.

Ana Tomás de Almeida, investigadora nesta área, na UM diz que "com o aumento do uso da internet percebe-se que pode haver a tendência para exposição a conteúdos maliciosos" que entronca no fenómeno emergente das redes sociais e a tendência para "assumir expressões que referem a virtualização corporal. Assumem múltiplas personalidades virtuais que são projecções de si mesmos".

Para Ana Tomás de Almeida a grande parte dos pais "não domina estes ambientes e ferramentas, pensando que os filhos estão a trabalhar, quando estão a fazer uso para além do que imaginam". Por isso defende "orientações e acompanhamento, para que as crianças se protejam. Dosear o tempo de uso é uma medida, porque as crianças não têm suficientemente claro as coisas que não são inofensivas".

Para esta investigadora, "há indícios de correlação entre o tempo de exposição na internet e a possibilidade de ser cyber-vítima ou cyber-agressor".