domingo, 11 de janeiro de 2009

Barack Obama vai ter carro especial


Gostam os americanos de dar a entender que na terra deles tudo é grande. Por vezes, estão cheios de razão. Nenhum outro chefe de Estado anda num carro com portas de peso equivalente às de um Boeing 757, como sucederá, já a 20 do corrente, com Barack Obama.
"The beast" é como os carros presidenciais são chamados, no jargão do Serviço Secreto, o corpo que garante a segurança dos líderes dos Estados Unidos. A besta, portanto, embora a tradução possa também remeter-nos para alimárias que, pelo fadário e pela lei natural, jamais aspiraram a ter no lombo carrego tão valioso.
Estava ainda por saber a cor do 44.º presidente dos EUA, se seria novo ou velho, democrata ou republicano, quando as primeiras fotos clandestinas do carro apareceram. Regra geral, estas fotos clandestinas, no mundo dos automóveis, pouco têm de clandestino, fazendo parte da estratégia de divulgação de um produto. Mas, enfim, isso pouco traz ao caso. O importante é que, pelo que desde logo foi dado a entender, a General Motors (dona da marca Cadillac) estava a ir além do que até agora havia sido visto em termos de segurança. Não da segurança de que se fala a propósito de qualquer carro, activa ou passiva, assim se diz, mas das técnicas aplicadas para evitar aquele que é um dos maiores medos colectivos dos americanos: o assassínio de um presidente.
Com um carro assim, a morte de John F. Kennedy nunca teria ocorrido nas circunstâncias verificadas a 22 de Novembro de 1963. Embora a limusina em que seguia não fosse da Casa Branca - estava ao serviço de John Connally, governador do Texas -, era semelhante às que JFK usava: descapotável e da marca Lincoln, coincidente com o nome de outro presidente assassinado, este num camarote de teatro, em 1865. E os carros usados por Kennedy até eram à prova de balas, dando-se apenas o caso de os dias solarengos dispensarem as partes da carroçaria que serviriam de escudo. E é curioso saber, ainda, que os criminosos foram mais precoces no uso da blindagem do que os estadistas. É que o primeiro carro presidencial à prova de balas, usado por Franklin Delano Roosevelt (presidente de 1933 a 1945), havia sido apreendido a Al Capone.
Adiante. Regressemos não a Barack Obama mas ao carro que o transportará, no dia da tomada de posse e posteriormente (os vários carros, note-se, pois é regra ter limusinas idênticas nas caravanas presidenciais, para que nunca se saiba ao certo em que carro segue o "patrão"). "O interior do carro está selado como o de um avião a jacto", diz Ken Lucci, especialista ouvido pela CNN, ao ver as fotos disponíveis do carro, ainda com mais aspecto de veículo militar devido ao primário cinzento que revestia a carroçaria (as diferentes cores, de acordo com as especulações de outros, poderão indiciar o uso de um novo compósito). A espessura das portas (mais de 20 cm) mostra até que ponto são resistentes, e alguns elementos dão a entender que podem ser fechadas como as de uma casa forte, transformando a limusina num bunker quase inviolável. Supõe-se, ainda, que a estanquecidade seja total, tornando o habitáculo imune a ataques com armas químicas. Dos equipamentos de comunicações e outros apenas se sabe o vago "state of the art" que, em linguagem comum, significa algo como o melhor que o dinheiro pode comprar. Obama viajará "num casulo", assim diz Joe Funck, reformado do Serviço Secreto que foi motorista de Bill Clinton: "Os barulhos do dia-a-dia desaparecem, e o presidente estará totalmente isolado no interior desse envelope".
Paradigma dos grandes carros americanos, este Cadillac exclusivo é bem diferente dos híbridos que, em campanha eleitoral, foram apregoados por Obama. Bem menos clássico do que o Bentley que transporta a rainha de Inglaterra, muito menos comum do que o topo de gama da BMW em que se desloca Cavaco Silva, presidente de um país que, por não assustar ninguém, vive pacato à margem do medo congénito em que entronca a segurança nacional dos Estados Unidos.

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