segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Renato dos Anjos é o director de animação de "Bolt"


Nasceu no Brasil, começou a trabalhar em animação aos 14 anos e está há mais de dez nos Estados Unidos. Numa carreira ascendente em termos de responsabilidade, na complexa teia de tarefas de uma longa-metragem de animação, já trabalhou em filmes como "Dia de surf" ou "Bog e Elliott vão à caça".
Agora, é o responsável pela animação da personagem central de "Bolt", a mais recente maravilha da Disney.
O que distingue "Bolt" de outras animações que têm estreado em todo o Mundo?
O estilo de animação do "Bolt" é muito naturalista. As personagens são muito verdadeiras. E a animação é bastante fluída, faz com que o espectador se identifique muito com as personagens. E o filme é muito bonito, faz lembrar os clássicos mais antigos da Disney. Os fundos são como pinturas, foi muito difícil fazê-lo.


Eram esses filmes que via quando era criança?
Com certeza que sim. Não é apenas por trabalhar na Disney, mas, até hoje, o meu filme preferido é o "Pinóquio". Marcou muito a minha infância. Ainda hoje é um marco da animação. É um filme lindíssimo, as personagens são muito belas, as emoções que despertam são muito vivas. Inspirou muito este meu projecto.


Pode descrever exactamente em que consistiu o seu trabalho em "Bolt"?
Fui um dos responsáveis pela personagem principal. Tive de estudar bastante toda a mecânica de movimentação dos cachorros. Depois, fui responsável pela equipa de animadores para que os movimentos de Bolt fossem uniformes ao longo do filme todo.


Para quem sabe desenhar, e, com certeza, muito bem, não é frustrante fazer um filme em que todo o trabalho é feito com recurso aos computadores?
Como animador, é indiferente o trabalho em duas dimensões ou em três dimensões. O que interessa é que a personagem seja viva e credível. Que as pessoas acreditem que é um cão mesmo a sério. O processo é o mesmo. Não tenho problema nenhum em trabalhar com o computador. Até gosto. A tecnologia trouxe muita coisa boa à animação.



É verdade que começou a trabalhar aos 14 anos?
A história é muito simples. Um amigo meu que é animador veio ao Rio de Janeiro e levou o meu portfólio para o estúdio onde trabalhava. Eles gostaram e puseram-me como estagiário. Desde então, a única coisa que fiz na vida foi animação.
Desde que começou a trabalhar, há praticamente 20 anos, a animação mudou muito.


Como é que define o estado actual da animação?
A maior mudança foi a entrada no mercado da animação da computação gráfica. Foi a Pixar que começou tudo, com o "Toy Story". Agora que os estúdios da Disney estão a ser dirigidos pelo John Lasseter, tem havido uma entreajuda muito grande, por exemplo, na parte do desenvolvimento da história.
Para quem está de fora, parece um pouco confusa essa articulação, dentro do estúdio, entre as produções Disney e as produções Pixar.
O ambiente é muito bom. Todos os dias, o John Lasseter fala com todas as pessoas. É ele que faz esse intercâmbio entre a Disney e a Pixar. Há várias fases dos filmes que são feitas no mesmo estúdio. E é o John Lasseter quem traz toda a força e a energia necessárias.
Também trabalhou nos efeitos visuais do segundo "Charlie's Angels". Deve ser muito diferente o trabalho num filme de imagem real…
É mais fácil trabalhar com pessoas a sério. Há muitas coisas que podemos mesmo ver, não são feitas apenas na nossa cabeça. A animação demora muito mais tempo, é um processo muito mais complexo e laborioso. Mas também é mais atraente, porque se cria algo que vem de dentro de nós.



Como é que está a animação no Brasil?


Tenho muitos amigos lá. Gosto muito de ajudar o pessoal de lá a evoluir. Sempre que me é possível, faço isso. Mas gosto muito da Disney, não tenho ideia nenhuma de sair daqui. Todos os dias que passo aqui estou a aprender.
É um sonho tornado realidade para qualquer animador trabalhar nos estúdios Disney…
Assim que se entra no estúdio, em todos os lugares, há exemplos da arte dos filmes da Disney. É muito vibrante e inspirador. Não conheço nenhum lugar no Mundo que tenha tanta vibração. Há aqui desde pessoas que estão cá há mais de 25 anos até animadores que têm apenas 18 ou 19 anos de idade. A Disney é um local fantástico para se trabalhar.

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