domingo, 23 de agosto de 2009

Morreram como viveram: unidos

No dia a seguir à derrocada que vitimou cinco pessoas, a praia Maria Luísa (Albufeira) estava parcialmente interditada e as famílias enlutadas preparavam os funerais. Vidas interrompidas por uma tragédia anunciada.
Maria Emília regressava hoje a França, onde residia, com o marido e as duas filhas. A família Fonseca tinha previsto viajar hoje para o Porto. Perderam a vida no último dia de férias,
António José Baptista Mota da Fonseca estava com a esposa (Anabela) e as duas filhas (Ana Rita e Mariana) na praia Maria Luísa quando a falésia se abateu. "Morreram como sempre viveram: em perfeita união", sublinha António Braga Júnior, presidente do Boavista Futebol Clube e amigo da família.
No último encontro que tiveram, há cerca de três semanas, António Mota da Fonseca disse a Braga Júnior: "Tenho mais sorte do que tu: vou de férias e tu não". "Quando soube da notícia, foi como se levasse um soco e as palavras dele vieram-me à memória. Esta tragédia tem a perversidade de fazer destruir o presente e o futuro daquela família", lamenta.
António Mota da Fonseca foi director de Relações Públicas do B. F. C., entre 1992 e 2002, e permanecia muito ligado ao clube. Alfredo Fontinha, ex-presidente da Junta de Freguesia de Ramalde, recorda o amigo como uma "excelente pessoa", e não esquece as recentes conversas que alimentaram em torno dos problemas do Boavista.
Toda a família era, aliás, adepta do clube axadrezado. Mariana, a filha mais nova (23 anos), "não perdia um jogo". Ela e o namorado - Vítor Sousa, que se encontrava também de férias em Albufeira e sofreu graves sofrimentos, estando a recuperar no serviço de Ortopedia do Hospital de Faro - destacaram-se como alunos de Direito na Universidade Católica do Porto e estavam a iniciar a carreira de advogados.
Além da ligação ao Boavista, a família era conhecida pelo fortes laços à comunidade de Ramalde. A mãe, Anabela, de 56 anos, era educadora de infância, especializada em educação especial, na associação "Asas de Ramalde", onde era tratada por "Belinha". O único parente directo que resta desta tragédia é o seu pai, de 83 anos, que vive em Lamego.
Ana Rita, a filha mais velha, era psicóloga e trabalhava na Junta de Freguesia de Ramalde. Entre as suas funções, constava o acompanhamento das crianças de famílias disfuncionais ou com problemas na escola, assim como os jovens, que frequentavam a Casa da Juventude de Ramalde. "Tratava toda a gente, crianças, jovens e idosos com muita dedicação. Era uma excelente profissional", recorda uma pessoa que com quem ela privou.
O reconhecimento dos corpos foi feito por uma prima, Luísa, que também se encontrava de férias no Algarve. Foi esta familiar quem, ontem de manhã, recolheu, na Polícia Marítima de Albufeira, alguns pertences recuperados da arriba tombada. Chaves de um carro, telemóveis. Uma aliança de casamento.

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